terça-feira, 11 de novembro de 2014

Como fica a Cultura?

RONALDO LEMOS

Com a troca ministerial, é hora de pressionar de novo o botão 'reset' das políticas culturais
Na década passada o Brasil viveu períodos de entusiasmo com a política cultural. Em um momento em que a produção e a circulação da cultura mudavam radicalmente por causa de internet, o país encarou o desafio desses novos temas. Isso despertou interesse internacional por uma visão brasileira da cultura, emergente àquela época.
Concordando ou não com o Ministério da Cultura da década passada, há ao menos de reconhecer que ele estava em sincronia com os grandes debates daquele período.
Essa sincronia foi perdida. O MinC que se conectava ao pulso das questões globais --e buscava uma visão própria para elas-- esvaneceu. Temas como a propriedade intelectual, a proteção à produção local, o impacto da democratização da tecnologia na base da pirâmide social, a concorrência com mídias novas e tradicionais, as assimetrias regulatórias foram sendo deixados de lado em prol de uma política focada na operação burocrática do dia a dia.
Com a troca ministerial, é hora de pressionar de novo o botão "reset" das políticas culturais. O mundo ficou ainda mais complexo. Por exemplo, a produção de conteúdo comercial para web é uma realidade, e o streaming (como o Netflix e os serviços musicais) expande-se no país.
Nesse contexto, vale observar as ações dos ministério de outros países. Um exemplo é o francês CNC (Centro Nacional do Cinema e da Imagem Animada), análogo à nossa Ancine. Só que, diferentemente dela, apoia novas formas de cultura.
No Brasil, se o "Porta dos Fundos" bater à porta da Ancine em busca de apoio, dará com os burros n'água. A Ancine só apoia cinema e TV. Para fazer conteúdo para web, desenvolver games e avançar em novas plataformas, não há fomento. Já o modelo francês permitiu o surgimento de empresas como a Ubisoft, um dos grandes estúdios de games do planeta, responsável por fenômenos como "Assassin's Creed" e o intrigante "Watch Dogs". Sucessos globais, como "Heavy Rain", tiveram apoio direto do CNC. Em outras palavras, nossa visão de "audiovisual" --salvo poucas exceções-- ainda remonta a um mundo de antes da internet.
Outra questão é dar continuidade aos avanços. Por exemplo, na regulação do Ecad, entidade que arrecada direitos autorais. O órgão andou desgovernado por anos, até ser condenado em 2013 por formação de cartel e outros ilícitos. Graças à mobilização dos artistas e músicos, o Congresso aprovou uma nova lei reformulando sua regulação. Uma das tarefas do novo ministério é implementar a nova lei, impedindo que as más práticas anteriores se repitam.
Mas o mais importante será pensar grande de novo. Com seu orçamento diminuto, o MinC pode ter impacto de larga escala se souber inspirar e apontar caminhos. Ele está no lugar certo para se debruçar sobre temas estruturantes, conectando-os a outras esferas sociais, da educação à produção de mídia, das periferias à política externa.
READER
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